
Nuvem de gafanhotos? É sério, mesmo?
Por CBC Agronegócios
29 de Junho de 2020
Não é filme de ficção e nem retroagimos aos tempos bíblicos, mas a praga da nuvem de gafanhotos é uma realidade nos tempos de hoje e está tirando o sono de muitos produtores brasileiros, principalmente depois que a Argentina, nosso vizinho, deu o alarme de sua vinda em maio último.
O perigo mora ao lado
Proveniente do Paraguai, a nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata partiu em direção à Argentina, retornou ao Paraguai onde ficou por uma semana e depois voltou ao solo argentino.
Essa espécie de gafanhotos não causa nenhum dano direto ao ser humano, mas é capaz de gerar estragos consideráveis a qualquer lavoura.
Foi o que aconteceu com a plantação de milho, cana-de-açúcar e mandioca no Paraguai e na Argentina (nas regiões de Formosa, Chaco e Santa Fé) que, por sua vez, alertou o Brasil no dia 11 de maio sobre o avanço da nuvem em nossa direção e do Uruguai.
Do lado de cá
De acordo com especialistas o poder de destruição desses gafanhotos é realmente digno das pragas do Egito. Em cerca de um quilômetro quadrado podem ser encontrados 40 milhões deles devorando a plantação, o que equivale a 2.000 vacas consumindo o pasto ou 350 pessoas comendo em apenas 24h.
Diante da seriedade desse quadro, agricultores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul que já sofrem com a estiagem e os efeitos danosos da Covid-19, agora também se sentem ameaçados pela praga vinda dos países vizinhos.
Aqui no Brasil, a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, emitiu em 24 de junho a Portaria 201 no Diário Oficial da União declarando estado de emergência fitossanitária nas áreas produtoras da região Sul do país, com prazo de vigência de até um ano.
O que pode ser feito contra a nuvem de gafanhotos?
Com deslocamento rápido de até 150 km em um único dia, técnicos têm monitorado em tempo real o que acontece com a nuvem de gafanhotos, a fim de tomar as providências necessárias.
É de suma importância que os produtores comuniquem aos órgãos competentes o aparecimento de uma quantidade anormal de insetos para combatê-los, evitando, assim, as desfolhas nas plantas, o que pode significar uma perda de 100% da lavoura, segundo a Embrapa.
Dentre as medidas a serem adotadas, destacamos:
- Uso de pesticidas no período da tarde, quando a nuvem se acomoda;
- Fumigação;
- Uso de avião em caso de infestação.
Conviver com pragas faz parte do dia a dia de quem vive nas zonas rurais. Entretanto, o que assusta dessa vez é o tamanho da nuvem de gafanhotos que pode chegar a 10 quilômetros.
Não se sabe exatamente como ela se formou, mas supõe-se que seja uma junção de fatores climáticos (clima quente e seco favorece sua reprodução), dinâmica dos ventos, tudo isso aliado à grande oferta de alimentos existente para os insetos.
Outro fator que pode estar relacionado aos já mencionados é o próprio manejo da terra, como apontam pesquisadores americanos da Escola de Sustentabilidade e da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade do Arizona.
A torcida, agora, é para que a chuva e a queda da temperatura que pode chegar a 5o C inibam e até mesmo dissipem a migração desses insetos e, ainda que cheguem à lavoura, não tenham o potencial destrutivo que teriam em condições normais, minimizando, desse modo, os prejuízos.